sábado, 13 de janeiro de 2018

Visibilidade para os discriminados...



É certo que existe um mundo antes da internet e outro bem diferente depois. Principalmente as redes sociais deram voz aos esquecidos, discriminados, às minorias.  Pessoas que viviam nas sombras puderam mostrar que existiam. Como nós transexuais, que desde sempre éramos enxergados apenas como pessoas que se prostituíam, sem sentimento, sem família, sem sonhos, apenas era isso que viam. Hoje em dia graças a internet nós temos rostos, podemos ser percebidos em outros empregos, dentro da faculdade, começamos a ser vistos como gente, finalmente. Assim como com as pessoas trans, todas as outras minorias discriminadas tiveram sua vez de serem ouvidas. Finalmente encontramos um meio de nos juntarmos contra a marginalização.

Claro que as minorias ganhando força, os privilegiados sociais, aqueles para quem tudo sempre foi dado fácil, cuja visibilidade era total e de uma forma muito positiva, começaram a se sentir incomodados com o fato de nós, minorias discriminadas, começarmos a existir como seres humanos em toda sua plenitude. E veio junto um movimento de resistência. Como assim nós ousávamos a querer sermos pessoas? Se pudessem nos enxotavam como ratos para dentro do esgoto. Mas como não podem,  fazem o tal movimento de resgate dos valores morais da sociedade.

As pessoas da minha geração lutavam para quebrar regras e padrões sociais, porque tudo era bem mais fechado. Somente os brancos, héteros, cisgêneros, classe média a rica é que tinham como se expressar e como existir de forma respeitável, os que restavam, ficavam a todo custo tentando serem ouvidos. Por isso a gente lutava para quebrar padrões e regras. Hoje em dia os favorecidos sociais batalham junto com a gente. Nós, ganhando visibilidade e eles ,“encaretando” a sociedade, lutando para não perderem o poder absoluto,  batalhando para resgatar o moralismo, puritanismo e assim neutralizar quem quer somente ter dignidade para existir.

É certo que nós que viemos até agora marginalizados, não vamos mais nos calar, mesmo que eles ainda detenham o poder, a nossa luta começou e não vai parar por aqui. Espero ver mais para frente, gerações com pessoas sendo respeitadas pelo que fazem e não somente pela cor da pele, classe social, orientação sexual, identidade de gênero. E que continue a batalha...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Sou mulher transexual e sou feminista!



Sou uma mulher que luta contra o preconceito acima de tudo. Acho mesmo que esse é um mal que corrói nossa sociedade, mina as relações humanas, destrói famílias, separa as pessoas em grupos radicais, que muitas vezes levam à morte muitos seres humanos que não fizeram nada além de existirem como são.

Sempre repudiei mais ainda quando alguém que sofre o preconceito, que se sente discriminado, não pensa duas vezes em fazer o mesmo com os outros. São gays que discriminam transexuais, transexuais que discriminam negros, negros que discriminam deficientes, deficientes que discriminam nordestinos, nordestinos que discriminam travestis e daí esse círculo de discriminação só vai crescendo sem que as pessoas parem para se colocar no lugar das outras. Não vou dizer que eu seja imune ao preconceito, que nunca tenha discriminado alguém, mas sempre quando tive a intenção de praticar esse ato e sempre que esse pensamento surge na minha mente, paro, penso e repenso tudo para ir me melhorando a cada dia. Sim, gente! Porque todos nós, em nossas mentes, discriminamos sim! Uns menos e outros mais. Mas o que fazemos com isso, como trabalhamos isso dentro da gente, é que faz toda a diferença.

No decorrer da minha vida, venho cada vez mais tendo postura, atitudes e pensamentos feministas, porque sempre fui uma feminista. Alias, 2015 foi um ano que esse movimento, essa forma de pensar, ganhou mais espaço na mídia. Sinto que as mulheres estão tendo mais vontade, mais força para falar sobre os aprisionamentos que o machismo causa. Elas estão cada vez mais se revoltando,  querendo saber quais atitudes tomar para que isso melhore. Mas acima de tudo venho percebendo uma mudança, não em atitudes momentâneas de reivindicação de seus direitos, mas uma transformação na sua postura diante desses direitos. Antes me parecia que as mulheres estavam pedindo, hoje sinto como se elas dissessem "-Não mexe nesse direito, porque ele é meu.". E eu sinceramente fico muito feliz. 

Sei que muitos homens são contra o feminismo, dizem que é "mimimi", que é  vitimismo da nossa parte, dizem que precisamos de uma "rola". Mas sinceramente, essa parcela dos homens, que é grande, não me interessa em nada! Sei também que existem as mulheres machistas, que não são poucas, mas essas, sinceramente, espero que um dia a ficha caia, que deixem de ser escravas de homens para se tornarem parceiras deles.

Bem, daí você deve está se perguntando porque comecei o post falando de preconceito e entrei pelo feminismo. Porque acho que machismo e preconceito sempre andaram juntos. Um alimenta o outro em várias formas de discriminação, não todas, claro. Mas o tipo de discriminação que sofri sendo uma mulher transexual, foi determinada pelo machismo. Se o mundo fosse feminista, coisa que está muito longe de ser, certamente  não teria sofrido muito do que sofri até me transformar na mulher que sou. E hoje em dia ainda sofro com o machismo. Portanto minha luta é para que esse mal social diminua, para que os dois sexos possam ter os seus direitos,  para que o homem e a mulher possam se sentir totalmente confortáveis na sociedade. Sei que não verei isso, se tivesse tido filhos diria que nem eles, mas um dia isso será possível e se eu puder plantar uma sementinha hoje, tá valendo.